Eu e um amigo entramos no banheiro do shopping. Eram apenas três mictórios, e já tinha um cara numa ponta. Fui para a outra ponta (é meio que uma regra entre homens), deixando o do meio vazio. Daí meu amigo ficou com o do meio (antes ele do que eu), e o cara da outra ponta saiu. Chegou um distinto camarada e ficou no mictório da ponta vazia. Meu amigo saiu do meio, e aí aconteceu.
Não deu nem cinco segundos, sabe. Meu amigo liberou o mictório do meio, e o cara VOOU para o meu lado. Eu achei tão estranho que fiquei meio "Jura???". Quer dizer, ele já estava no mictório da ponta. Por que trocar pelo do meio? A mudança foi tão brusca que eu, com minha mente de cocô ativada, fiquei pensando:
"Pronto, é agora que ele mete uma faca em mim. Ele vai me assaltar aqui mesmo e ninguém vai perceber, porque ele vai sussurrar e mostrar a arma. Ou isso ou o mictório da outra ponta está ruim. Ou sem água. Não sei. Mas não tinha um outro cara lá? Tem que ter um sentido. Ele vai me passar umas drogas agora. Ou uma bomba"
Daí eu, nessa letargia, estava naquele momento de encerrar os trabalhos e fechar o zíper, quando o cara, de alguma forma, INVADIU MEU ESPAÇO e deu UMA BOA OLHADA em mim. Assim, mesmo que mictórios, desses que são separados, sejam um ao lado do outro, AINDA existe privacidade. Para uma pessoa dar uma conferida na outra, ela tem que realmente querer fazer isso. É cruzar uma linha.
Eu fiquei tão "WTF?!". Veja bem, não é nem a questão do "O cara vendo o meu pinto", porque eu nem tenho travas com nudez, mas foi, tipo, surreal. Como se eu entrasse num elevador dando bom dia e todo mundo respondesse "Bom dia tua cara". Ou como se ele tivesse lambido meu olho. Foi um misto de incredulidade com ser pego de surpresa e um pouco de susto, porque eu já tinha achado a atitude do cara meio estranha. Me senti desrespeitado, violado.
Assim que eu saí, o cara saiu também, meio correndo. Tipo, só se ele já estivesse mijando nas calças quando chegou nos mictórios para sair tão rápido, o que me fez pensar que ele entrou no banheiro só pra isso mesmo.
Meu amigo estava falando desde que entramos e, juro, não faço ideia mais do que era, porque a minha mente apagou. Meu amigo lavava as mãos, o cara lá também. Eu não conseguia olhar para o cara, fiquei fingindo que nada tinha acontecido.
Mas eu me forcei a olhar, porque, não sei. Eu encarei ele, ele me encarou de volta. Não sei o que falamos pelos olhos, mas foi tipo um "Eu sei o que você fez, e você sabe que eu sei".
O cara disparou na nossa frente e virou na primeira esquina que viu. Depois, eu meio perplexo ainda, contei para o meu amigo "Você viu o que aquele cara fez?". Amigo ficou mais indignado que eu "E VOCÊ NÃO DISSE NADA? POR QUE VOCÊ NÃO ME FALOU ANTES? AGORA ELE SUMIU". E, gente, ia fazer o quê? Espancar a pessoa?
Aí ele disse: "Viu? VOCÊ FICA DEFENDENDO OS GAYS, OLHA AÍ".
E só porque ele disse isso que eu estou escrevendo. Não tem nada a ver com os gays. A sexualidade do cara nem entra em questão. O fato dele supostamente ser gay não influencia em nada o fato. Eu não fiquei incomodado por que um gay deu uma de psicopata para cima de mim, mas com o fato de que uma pessoa simplesmente violou minha privacidade. Me desrespeitou, passou por cima da minha vontade, não me tratou como gente.
E não foi uma coisa de ESSE QUE É O PROBLEMA DOS GAYS. Não, o maluco era aquele cara específico ali. Ele que não teve noção. Nada a ver com todos os outros gays do mundo. Um maluco heterossexual não ia chegar em mim e nem dividiria banheiro com mulheres, mas certamente ia desrespeitar mulheres em outros ambientes.
Fico pensando nesse acontecimento e, às vezes, acho engraçado, às vezes acho muito problemático. Quer dizer, vai que eu que sou um psicopata? Vai que eu e meu amigo somos daqueles machistões que agridem pessoas fisicamente? Sabe, ninguém deve ser tratado como um objeto. E espancar pessoas também conta como não tratar como gente. Eu não sei se todas as pessoas estão cientes disso, então, gente, cuidado com o que vocês fazem. Não abusem de ninguém, plmdds.
No fim das contas, foi apenas uma bobagem. Não morri, não me machuquei, mas, sei lá, eu fico pensando o que se passa pela cabeça daquele cara e em todos os cenários ruins que poderiam ter acontecido.
Esse foi o texto menos claro que já escrevi no Não Sei Lidar, mas acho que é porque eu não estou sabendo lidar mesmo. Me ajudem aí nos comentários a entender o que está acontecendo por aqui.
***
Fico pensando nesse acontecimento e, às vezes, acho engraçado, às vezes acho muito problemático. Quer dizer, vai que eu que sou um psicopata? Vai que eu e meu amigo somos daqueles machistões que agridem pessoas fisicamente? Sabe, ninguém deve ser tratado como um objeto. E espancar pessoas também conta como não tratar como gente. Eu não sei se todas as pessoas estão cientes disso, então, gente, cuidado com o que vocês fazem. Não abusem de ninguém, plmdds.
No fim das contas, foi apenas uma bobagem. Não morri, não me machuquei, mas, sei lá, eu fico pensando o que se passa pela cabeça daquele cara e em todos os cenários ruins que poderiam ter acontecido.
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Esse foi o texto menos claro que já escrevi no Não Sei Lidar, mas acho que é porque eu não estou sabendo lidar mesmo. Me ajudem aí nos comentários a entender o que está acontecendo por aqui.
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O que você sentiu é o que toda mulher sente quando é violada assim na rua. Fosse esse cara hétero (o que a gente nem sabe, pq olhar pro pinto dos outros assim não quer dizer que a pessoa seja gay) ele passaria a mão na bunda de uma mulher.
ResponderExcluirPra mim seu texto ficou muito claro. Ser tratado como menos que gente, como objeto e contra a nossa vontade é uma das piores coisas que podem nos acontecer. E não tem a ver com orientação sexual de quem faz. Tem a ver com caráter. Ponto final.
Eu pensei exatamente nisso e em como é assustador imaginar que uma mulher fica com essa sensação com muito mais frequência que eu.
ResponderExcluirTentei escrever esse post várias vezes, forçando uma abordagem engraçada do fato (que é meu jeito natural de lidar com tudo), mas não estava indo. Até que eu me toquei que era porque não tem graça alguma mesmo.
Tem a ver mesmo com o caráter, achei a atitude até mesmo um pouco doentia. Quer dizer, qual foi a necessidade? Não foi uma GRANDE COISA, mas, ainda assim, me deixou perplexo. Não estou acostumado com gente insana assim.
Obrigado pelo comentário! De verdade.
Faço das palavras da Lilian as minha. Ela falou tudo o que eu pensei.
ResponderExcluir:)
ResponderExcluirAcho que toda mulher que lê esse texto sente a necessidade de comentar a mesma coisa que a Lilian: sofremos constantemente esse tipo de assédio. E o pior é que sofremos: por antecipação porque sabemos que vamos por isso, quando passamos e depois, toda vez que lembramos. :(
ResponderExcluirE olha, se tem uma coisa que eu tenho neura é com o tal do banheiro. Li uma matéria com a Taylor Swift onde ela fala sobre a falta de privacidade que ela tem e como ela fica neurótica até quando vai ao banheiro, procurando pra ver se tem alguma câmera escondida. Quem nunca deu uma espiadinha nos cantos da parede, né?