Tô chamando na intimidade vocês que estão sempre aqui, deixa eu contar uma coisa. Por causa de alguns comentários que eu recebo, seja aqui no blog, no Twitter, na página do Facebook e até pelo formulário de contato, eu fico imaginando o que se passa na cabeça de vocês a respeito da minha pessoa. Quer dizer, o que vocês enxergam daí? Vocês soam bem empolgados quando eu comento sobre a lista das coisas que eu quero fazer, quando eu posto as aventuras e os causos também. Vocês ficam, tipo, "NOSSA, FELIPE, QUE DEMAIS, TBM QUERIA FAZER ISSO" ou "VC É UM EXEMPLO" ou "FELIPE, SUA VIDA kkkk, VAMO SER AMIGO", e eu recebo todo esse amor gratuito, porque amor nunca é demais.
Mas, então... Minha vida é comum também. Eu não levanto da cama animado para um dia cheio de aventuras fascinantes ao lado de pessoas maravilhosas. Eu não saio de casa patinando no gelo, pego ônibus que nem todo mundo.
Eu acordo bem cedo. Quer dizer, um pouco mais cedo que todo mundo que tem que sair de casa para trabalhar. Às vezes, eu estou sozinho em casa. Às vezes, eu tenho meia horinha para ver minha mãe. Daí eu preciso pegar um ônibus lotado, mas não é um lotado qualquer, é aquele lotado que dói. Fisicamente. Eu acho que tenho ossos fortes e uma lombar preparada para o dia-a-dia. Já entro preparado psicologicamente para a longa viagem que será, porque, dependendo do trânsito, eu posso demorar mais de duas horas para chegar no trabalho.
Você achou que eu saía de casa num balão, né?
Mas o ônibus é só a primeira parte do trajeto, porque eu também tenho que encarar o metrô. Faz parte. As pessoas que eu encontro nesse caminho nem sempre são legais e engraçadas. Nem sempre há causos. Na maioria das vezes, é só uma viagem chata mesmo. Tipo, eu entro, seguro num ferro, tento não ficar colado nas pessoas e não enlouquecer ficando quase uma hora nisso.
Você não vê isso, né?
Então, eu chego no trabalho e, olha, eu gosto de trabalhar. Não tem ninguém insuportável no lugar onde passo oito horas diárias e até tem gente muito boa, mas tem dias que é um porre. Tem dias que a hora simplesmente não passa. Eu frequentemente fico com medo do tédio me matar. Tem dia que o problema está todo comigo, eu estou um cocô, mas mesmo assim eu saio de casa para encarar uma tela de computador. Eu tenho chefe, tenho superiores imediatos, tenho que atender o telefone às vezes, tenho hora de almoço e comemoro o fim do expediente.
Vocês acharam que eu estava sempre empolgado assim?
Depois, eu simplesmente volto para minha casa do mesmo jeito que fui, mas o trânsito está ainda pior. Se chove então, dá tempo de viver duas vidas e meia antes de encontrar minha cama. Em casa, às vezes, não tem ninguém. Também não tem lugar nenhum para ir, e eu nem quero ir para lugar nenhum mesmo, pois estou cansado. É uma luta para tomar banho (que eu venço, ok?) e jantar (essa eu perco quase sempre, não sou um faquir por acaso). Às vezes, tem gente, então eu tenho mais uma horinha para saber o que aconteceu na vida das pessoas que moram comigo, sendo que às vezes nada de bom aconteceu ou eu que não quero saber de ninguém mesmo.
Então eu durmo às 22h e, surpresa, o dia seguinte será praticamente igual a este que finda.
Vocês acharam que eu via o Ícaro Silva todo dia, né?
Você provavelmente se identificou com alguns pontos do meu dia. Eu tenho uma rotina bem comum, que nem quase todo mundo. Acho que tenho uma vidinha normal.
Não é como se eu fosse uma pessoa fora da realidade. Eu só tenho uma lista com um monte de coisas legais para fazer, força de vontade em me conectar com pessoas e uma tendência a rir de tudo. Funciona muito bem pra mim. Quando vocês me mandam amor gratuito por isso, eu quero responder de volta VOCÊS PODEM TAMBÉM, A VIDA É BOA, mas nem sempre a mensagem chega.
Então, tá aqui bem explícito, não digam que não tentei.
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Hahaha, Felipe não é super herói do humor. Acho que o interessante é achar essas pontos positivos/engraçados no dia a dia. Pode salvar a pessoa de um dia ruim focar em algo assim. Aos poucos tu consegue mostrar para quem ainda não sabe que isso é possível pra todo mundo.
ResponderExcluir:*
Esse é o mal (um dos) da Internet, sabe? A gente tende a mostrar só as coisas boas que nos acontecem, até porque as ruins nos incomodam tanto que a gente quer mais é esquecer que elas existem. Comigo pelo menos é assim. Tudo o que é ruim na minha vida às vezes dói tanto que eu não quero que ninguém saiba, então eu mostro as partes boas, mesmo que pequenas (a flor que nasceu no meu quintal, o café quentinho que ficou uma delícia, um lugar diferente que eu fui).
ResponderExcluirE a gente é tão idiota que vê essas mesmas coisas boas das outras pessoas e acha que elas tem uma vida perfeita, como você disse no post, e acaba ficando deprimido porque a nossa vida não é perfeita também.
Então, embora a gente saiba disso mas não admita, seu post foi um ótimo choque de realidade.
Algumas vidas são melhores do que as outras, taí a desigualdade que não me deixa mentir. Mas a vida de TODO MUNDO é chata em algum momento (umas mais, outras menos). É que ninguém ostenta chatice, né.
Adorei e vou espalhar pra todo mundo porque acho que seu texto tem que ser lido. Sério.
Desculpa pelo textão.
A vida tá boa, não, Felipe. E tá muito longa. :(
ResponderExcluirOu as ruins não são interessantes pra ninguém, né? Tipo "Eu no metrô lotado :D", "Eu esquentando minha comida no microondas numa noite fria de Julho :D" Hahahahah Os detalhes da vida real da pessoa pouco aparecem em blogs e redes sociais.
ResponderExcluirAcho que eu parei de me importar com o quão boa a vida das outras parecia em comparação com a minha, principalmente depois daquele texto sobre pessoas da geração tal, que tinha uns unicórnios, sobre expectativas, lembra? (minha memória :D). Enfim, a vida de ninguém é PARTY HARD o tempo todo mesmo.
Algumas vidas são mais difíceis que as outras, realmente. E eu tenho a plena consciência de que a minha não está entre as mais complicadas, mas é sempre bom o povo ter uma noção de que como realmente é para não idealizar tanto. O que eu mais gosto no meu blog é eu ser comum e viver coisas incomuns.
Textões <3
E mesmo a rotina nossa de cada dia não é necessariamente ruim. A verdade é que eu AMO ônibus/metrô (dá pra ler e ver séries <3). Acho que o mais importante é se cercar de gente boa, ter amigos, ter sonhos. Ruim é focar no tédio.
ResponderExcluir:(
ResponderExcluirMas não rola tentar mudar? Porque só seguir o fluxo, às vezes, cansa.
Exatamente, Felipe! :D
ResponderExcluirNa verdade, eu achei esse texto meio deprimente...
ResponderExcluirOlha, eu também AMO transporte público, assim com maiúsculas mesmo. Eu sou uma usuária orgulhosa e olha que eu até podia ter um carro (pagando em suaves 6574 prestações) mas além de curtir o transporte público eu me sinto fazendo um bem pela cidade andando de ônibus, sabe?
ResponderExcluirSou do mesmo time. Não fosse o fato de que aqui os ônibus passam apenas de hora em hora (ou seja, um compromisso de 15 minutos pode durar 2 horas só pq vc tem que esperar o ônibus), eu nem me preocuparia em fazer a CNH...
ResponderExcluirEu nunca farei a CNH, é uma verdade cravada em meu coração.
ResponderExcluirDeprimente como? Pode discorrer sobre isso?
ResponderExcluirAgora acabou a minha pausa. Aguarde 25 minutos.
ResponderExcluirÉ que a reafirmação da realidade é deprimente. Eu entendi a mensagem no final - que todo mundo pode fazer coisas extraordinárias, mesmo tendo uma vida normal. Mas se eu mandar esse texto pra alguém que já está meio deprê com a própria realidade, acho que a pessoa pode ficar desesperada antes de chegar ao fim. Talvez por isso ninguém conte o que acontece entre uma aventura e outra. Não apenas porque ninguém precisa saber, mas também porque ninguém quer saber o quão normal é a vida das outras pessoas. Isso não dá esperança. Se você diz "A minha vida é uma merda" e eu respondo com "Não fica assim, a minha também é" isso não me dá esperança, entende?
ResponderExcluirEntendi! Mas eu já penso o contrário.
ResponderExcluirAcho que por isso eu me identifico tanto com gente normal que ganha o mundo. É tipo "Se ela pode, eu tbm posso". Se a pessoa toma uma vida idealizada como padrão, como fica a cabeça dela em relação a própria vida? Porque, tipo, a nossa vida nunca vai ser UHULL PARTY HARD o tempo todo.
Concordo com sua última colocação. E, agora que você falou, eu notei que a frase "A minha vida é chata também" funciona de formas diferentes pra gente, é ambígua. Não foi uma boa escolha minha. Porque eu não acho minha vida chata. Você sabe, acho até MARAVILHOSA. Acho que um título melhor seria "Às vezes, minha vida é chata também". Tipo, faz parte, não é por isso que tudo é uma merda. Você pode estar na rotina e ainda ser feliz etc.
Seu comentário contribuiu muito <3
Isso! Ou, "A vida é feita de momentos chatos, também. Os legais a gente tem que criar". Algo assim, mais motivador.
ResponderExcluirDizer simplesmente que a sua vida é chata pode gerar três reações, eu imagino. 1) Então não há esperança. 2) Então eu também posso ser como você. 3) Meu Deus, se a SUA VIDA é chata, o que é a minha?!
Na EBD dos últimos domingos estudamos sobre depressão. Um dos sintomas da doença é que a pessoa enxerga tudo com o óculos da depressão, ela tira a esperança de todas as coisas. Tudo o que ela faz, tudo o que acontece com ela e com as outras pessoas, só servem pra provar o quanto ela é inútil e sem valor. Ou seja, não adianta você mostrar o downside pra essas pessoas. Só vai piorar as coisas. Ela não consegue enxergar com a perspectiva da esperança.
Me encaixo nisso aí tudo que a Annie falou.
ResponderExcluirAgora, pensando melhor, eu acho que "chata" é a palavra que está errada. O que eu realmente queria dizer foi "comum". "Minha vida é comum também". Até porque eu nem acho essa rotina de sair de casa para trabalhar uma coisa necessariamente chata.
ResponderExcluirAcho que vou até editar o post.
"Eu nunca farei a CNH, é uma verdade cravada em meu coração." <3
ResponderExcluirMais uma pro time. E é incrível como isso irrita as pessoas, já repararam? Tem gente que falta me bater porque: mas que absurdoooo como assim você não vai tirar de carteira de motorista e se precisar de carro e se precisar sair de noite e...
Acho que eles não conhecem o conceito de táxi.
Assim, eu adoraria saber dirigir, porque, né, nunca se sabe, pode ser útil qualquer hora aí, mas, gente, e o custo para se conseguir uma CNH? E o tempo? Eu nem quero ter um carro, não me imagino guiando uma coisa que pode matar pessoas tão fácil.
ResponderExcluirSempre me falam esta do "E se precisar ir pro hospital à noite e...". Não é por causa de UMA POSSIBILIDADE REMOTA que eu vou tirar a CNH e ainda comprar um carro, né? Prioridades.
Único momento crucial pra saber dirigir: apocalipse zumbi. Mas como já sabemos de que lado estaremos quando isso acontecer, não é uma preocupação na vida...
ResponderExcluirNossa. Minha vida chega a ser mais chata que a sua. :/ Sério. rsrsrs Li o post da notinha e vim aqui para conferir esse, pq sabe, não estou tendo tempo nem de ler meus blogs :'( . quem me dera comentar! ahahaha
ResponderExcluirEntão, acho que tudo nessa vida é temporário, temos que ter ambição para mudar isso e ser inconformado com manter essa rotina. Tenho passado por momentos bem críticos, mas tenho a certeza que é por um bem maior, mesmo assim me pego reclamando... ô maniiia! Fazer o quê? Eu tenho tentando pegar leve com as expectativas e isso tem me ajudado bastante! Abraço!
Eu gosto de rotina com umas coisas malucas no meio. Só rotina deixa a gente triste, mas AVENTURA O TEMPO TODO me cansa também. Teve uma época que eu estava saindo todo final de semana e cheguei num ponto de BASTA! HOJE NÃO! porque queria só ficar em casa e fazer nada :)
ResponderExcluirTer objetivo é bom também, porque te dá força de vontade de continuar.