Você está entediado em casa, como num domingo que parece não ter fim. De repente você repara numa porta misteriosa que sempre esteve ali, embora você nunca tenha se perguntado para onde ela leva. Daí você dá seu jeito de passar por ela e descobre um mundo novo, cheio de excelentes possibilidades. Só que o mundo não é tão novo assim. É o seu mundo, só que do jeito que você sempre quis que ele fosse. Foi mais ou menos isso que li em Coraline (Neil Gaiman), um livro encantador, aliás (Falo mais sobre ele num outro blog numa outra oportunidade).
Do outro lado da porta, Coraline encontra uma Outra Mãe sempre sorridente, um Outro Pai que sempre tem tempo para brincar com ela, Outros Vizinhos muito mais interessantes do que os que ela tinha e coisas legais assim. Eu fiquei pensando o que aconteceria se eu atravessasse uma porta dessa...
Minha Outra Casa seria espaçosa, do tipo que me permitiria dar um duplo mortal carpado do quarto pra cozinha, da cozinha para o banheiro, dali pra sala e etc.
Minha Outra Mãe não se acharia uma especialista em fitoterapia e nem acharia que todos os problemas do universo são causados pelo computador ou por eu não comer banana, nem maçã ou outra fruta qualquer. Meu Outro Pai seria desses que largam tudo pra viajar ao redor do mundo, mas sempre entraria em contato comigo, seja enviando cartões-postais, presentes surreais ou ligando para contar que a Índia é fantástica ou que a Estátua da Liberdade é mais bonita por fotos do que pessoalmente. Assim como Angelina Jolie, minha Outra Irmã seria, não necessariamente, uma celebridade, mas uma dessas pessoas que parecem ter um bom coração e, por isso, adotam crianças do mundo todo e montam uma versão dos líderes da ONU na própria sala de estar.
Eu teria um livro publicado. O Outro Livro seria o começo de uma nova era na literatura, seria o carro-chefe de uma nova febre assim como foi Harry Potter, Crepúsculo, Cinquenta Tons de Cinza... Muito diferente da história cheia de clichês, água e açúcar que estou tentando escrever no momento.
Meus Outros Amigos morariam na minha Outra Rua e eu não precisaria demorar meses para ouvir as vozes calorosas novamente. Talvez, eu salvaria o mundo de mil maneiras diferentes, diariamente, no meu Outro Emprego.
Seria o mundo perfeito. Ou não. Tem uma cena no livro em que viram pra Coraline e dizem que se ela escolher ficar de vez no Outro Mundo, ela terá tudo o que quiser. Ao que ela responde (mais ou menos assim):
"Eu não quero tudo o que eu quero. Ninguém quer. Não realmente. Que graça teria eu ter tudo que sempre quis? Assim, ter tudo não significaria nada"
Concordei com ela. Porque se tudo já está do jeito que você quer, então você não quer. Eu não saberia dar valor pra coisa alguma. Talvez eu não daria valor aos meus amigos se eles estivessem aos montes por perto, sempre disponíveis pra mim. É esquisito, porque ambição é uma coisa boa (com ressalvas), só que nunca teremos tudo. Nada será perfeito. Caso um dia isso aconteça, de eu topar com meu Outro Mundo, eu me estragaria. Absorveria as maravilhas do mundo novo, porém, elas se tornariam banais em pouco tempo. Aí o Felipe não iria existir mais e eu teria que me transformar no seboso, metido e vazio Outro Felipe.
E o seu Outro Mundo? Como seria?
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E o seu Outro Mundo? Como seria?
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Que post lindo, Fagundes! Agora estou eu pensando em como seria o meu "outro mundo"...
ResponderExcluirSó que eu não concordo muito com essa coisa de não querer realmente tudo o que se quer... Eu acho que todo mundo realmente quer tudo o que se quer... o problema é que não pesamos as consequências. Se todos os seus amigos morassem aí na sua rua, você teria tempo para visitá-los todos os dias? Iria querer visitá-los todos os dias? Iria sobrar tempo para ficar sozinho? (Talvez você não goste, mas eu totalmente necessito de momentos de solidão)
Se sua irmã fosse uma Angelina Jolie você não sentiria falta de algum defeito que ela tem agora? Falta de estar mais perto dela ou de alguma coisa assim? Será que os novos defeitos iriam ser mais ou menos agradáveis?
O que eu realmente penso é que não existe a perfeição - os defeitos e problemas estão sempre por lá! Mas quando idealizamos alguma coisa, bom... estamos só sonhando mesmo, então simplesmente ignoramos qualquer coisa que não seja maravilhosa. Entretanto, mesmo que todos os nossos sonhos se tornassem realidade, todos os defeitos nos quais não paramos para pensar (e que podem passar despercebidos em um primeiro olhar - na primeira semana morando no mundo perfeito, por assim dizer) estarão lá também. Dessa forma, será ao mesmo tempo o mundo dos nossos sonhos e algo completamente diferente. E daí é que eu enxergo a verdadeira questão de "não querer o que realmente queremos". Não é que não queiramos, é que esquecemos de pesar e avaliar a parte negativa, que certamente estará por lá.
Mas eu bem que queria que parte do meu mundo idealizado se tornasse real - mesmo carregando alguns dos problemas nos quais eu nunca pensei...
Eu acho que totalmente atravessaria a porta... qual será o prazo para decidir se queremos ou não ficar no mundo idealizado? Certamente menor do que seria necessário para conhecer os verdadeiros defeitos dele!
P.S.: Escrevendo esse testamento, ops, comentário, lembrei do filme O Efeito Borboleta. Não é exatamente o que eu falei que ele quis dizer, mas isso está dito nas entrelinhas. Já assistiu? O cara quer consertar alguma coisa, ele conserta, mas ao mesmo tempo acaba estragando outras tantas.
Beijos,
Nanie
Puxa Felipe , abandonou o Fechei para fazer posts filosóficos ? Sério ?
ResponderExcluirCadê o Felipe engraçado e irônico?
Não sei lidar com você, Nic :P
ResponderExcluirFalando sério, agora, assim como o Fechei, esse é um blog PESSOAL. Não é de de piadas, de humor, entretenimento, enfim.
Gosto muito de contar coisas engraçadas (eu me divirto pra caramba escrevendo também), mas tudo vai do meu humor. Não mando nele. Esse blog aqui não tem como objetivo fazer as pessoas rirem (se eu conseguir, ótimo), ele está aqui pra contar o que se passa comigo.
No momento, estou mesmo numa fase meio reflexiva. Ou seja:
¯\_(ツ)_/¯
Nanie! Como eu disse, adorei seu comentário. Você tem razão dizendo que o mundo idealizado por nós com certeza teria defeitos que não sabemos ainda. Também acho que a perfeição não existe. Acho que faz parte da natureza da esmagadora maioria dos seres humanos sempre querer mais. Num mundo idealizado, eu sonharia com um outro mundo idealizado rs
ResponderExcluirA verdade é que eu não tenho muito do que reclamar. Tenho medo de atravessar a porta e ter muitas responsabilidades no mundo novo, preocupações de gente rica (rs), sei lá. Acho que eu teria medo de arriscar rs
PS: Não assisti, mas sei do que se trata. Quase o mesmo estilo de Being Erica (série de TV que eu amo).
"Num mundo idealizado, eu sonharia com um outro mundo idealizado" - ainda estou rindo dessa frase, Fagundes! Mas apesar de estar rindo e de achar muita graça, penso que ela é bem exata. Como seres humanos, estamos sempre idealizando e sonhando com aquilo que não temos... E sabe? Agora me passa pela cabeça que talvez o mundo idealizado sonhado por nós se vivêssemos no nosso mundo idealizado seria o mundo em que vivemos agora (deu para entender o que eu quis dizer?), mas sem os defeitos, porque estes nós nunca colocamos na balança.
ResponderExcluirEu queria não ter medo de arriscar. Quase escrevi que não teria... mas a verdade é que mudanças sempre me deixam apavorada!
Também não posso reclamar, sabe?! Não vivo em um mundo idealizado, cheio de fadinhas e sem defeito algum, mas levo uma vida bem boa!
P.S.: Nunca vi essa série embora você e a Cíntia Mara sempre falem dela >< Tenho curiosidade, mas falta tempo!
hahaha
ResponderExcluirSim, a Estátua da Liberdade é mais bonita por fotos do que pessoalmente.
Morri de rir com a Angelina criando a versão da ONU na sala de jantar.
Mas sério agora: Acredito que a gente sempre quer algo mais, não importa quantas coisas a gente consiga ao longo da vida, sempre vamos ter um sonho que não realizamos.
Lembrei da música "Something More" da Francesca Battistelli (http://letras.mus.br/francesca-battistelli/1973658/)